"O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem." (Rubem Alves)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

SUBINDO A ESCADA ROLANTE PELO LADO QUE DESCE


Segue texto de minha autoria, postado originalmente em meu perfil no Facebook

Hoje fiquei feliz ao conhecer Camila, uma garota bonita e de sorriso enigmático que poderia se chamar Tereza, Patrícia, Maria Carolina, que é o nome belíssimo de minha mãe, ou simplesmente Maria. 


A conheci por aqui mesmo (no “Face”), mas ainda não tive oportunidade de lhe indagar sobre sonhos, projetos ou coisa do tipo. Ela, por certo, os possui. Pesquisando em sua página vejo que no dia 10 deste mês Camila escreveu: “E hoje começa mesmo né?! O Curso de Qualidade no Atendimento?”. Trata-se de uma boa pista, afinal, iniciar um curso e procurar qualificar-se é próprio de quem tem projetos, de quem carrega aspirações e deseja progredir. Camila transparece essa vontade, mesmo quando a vemos em uma foto no universo virtual e, devo confessar, pessoas que manifestam essa gana de crescer me encantam.

Vou seguir Camila. Para saber mais a respeito dessa garota bonita e de sorriso enigmático, lancei o seu nome completo naquele famoso buscador, dei um “enter” e constatei estupefato que, no plano terreno, Camila não avançará. Ela não realizará os seus projetos e nem concluirá o curso de qualidade no atendimento. Aliás, aquela postagem sobre o curso foi a última que ela realizou. Aos 22 anos de idade, Camila teve a sua história prematuramente interrompida em um acidente de trânsito (ainda não devidamente esclarecido) na BR 304, quando pilotava sua motocicleta se deslocando para Itaiçaba/CE, onde morava. 

Em homenagem a Camila e a aproximadamente outros 50.000 brasileiros que, ano a ano, têm as suas histórias canceladas por conta da violência no trânsito, continuemos nós, que ainda temos a oportunidade de escrever nossas narrativas, a subir com muito cuidado “a escada rolante pelo lado que desce” (expressão que tomo emprestada de Lya Luft).

Hoje, através de uma foto, conheci Camila.

Hoje me entristeci ao conhecer Camila que não terei oportunidade de conhecer.

2 comentários:

  1. Olá Luís, que linda história e sem apelar para fortes emoções você nos mostrou uma realidade tão presente como essa. Algo precisa ser feito para que pessoas como essa Camila possam viver e sonhar.

    ResponderExcluir
  2. "Hoje me entristeci ao conhecer Camila que não terei oportunidade de conhecer".(Um fim de um recomeço - um recomeço de um fim).
    Este texto, que considero um pequeno ensaio, de uma literatura muito mais densa que o autor, Luís Carlos Paulino, é extremamente capaz de produzir. Confirma cada vez que o trânsito deve ser tratado nas ciências humanas - um diálogo transcendental da técnica das discussões administrativas; "infração com gravidade de"?, "estacionamento para"?, faz "o teste de alcoolemia ou não"?, mais a "prova contra si mesmo" e "o contraditório deferido"? questionamentos que não têm se conectado com o ínterim da "sensibilidade" social. Portanto, provocações sensíveis, inteligentes, sociológicas, educativas e provocantes de forma elegante, como esta devem ser produzidas e socializadas. Fez - me lembrar de Blaise Pascal, filósofo matemático francês, quando disse: "Há necessidade da abertura à sensibilidade, uma sensibilidade generalizada, um verdadeiro esprito de finesse. A 'ética da sensibilidade generalizada' é um apelo, talvez não tão novo, mas urgente e indispensável para a nossa época".

    Obrigada por esta sensibilidade de palavras escritas para serem lidas, ditas e reproduzidas.

    Ângela Lima

    ResponderExcluir