"O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem." (Rubem Alves)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

DETRAN DO DF VAI EXPERIMENTAR NOVO MODELO DE FAIXA DE PEDESTRE

Fonte: CORREIO BRAZILIENSE


Quase 15 anos depois do lançamento da campanha Paz no Trânsito, que transformou Brasília na capital do respeito ao pedestre, a cidade será mais uma vez pioneira no assunto. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) autorizou o Governo do Distrito Federal a construir de forma experimental um novo modelo de faixa. O ponto de travessia tem pintura diferenciada, novo sistema de visualização e de sinalização. Com as alterações, o Departamento de Trânsito do DF espera reduzir o número de atropelamentos. No ano passado, 12 pessoas morreram sobre as faixas — o maior número desde 1997.

Os cinco primeiros pontos a receber a novidade ficam no centro da cidade, no Sudoeste e em Taguatinga. Os técnicos do Detran começam a fazer as alterações a partir desta segunda-feira. Se o trabalho trouxer bons resultados, o governo federal poderá até alterar o Código Brasileiro de Trânsito para tornar obrigatórios os novos itens de segurança. Depois do teste, o novo modelo de faixa também deve ser levado a outros pontos do Distrito Federal.

As travessias experimentais têm pintura diferenciada, que começa 16 metros antes da faixa. A demarcação sobre o asfalto será feita em zigue-zague, ao contrário das pinturas retas de hoje. A essa mesma distância, será instalada uma placa de sinalização que alerta para a proibição de parar e estacionar na área da travessia. Ao lado da faixa, uma outra placa, desta vez amarela, vai indicar aos motoristas que ali começa a área de travessia.

O diretor-geral do Detran-DF, Francisco Araújo Saraiva, explica que o objetivo do projeto é melhorar a visibilidade. “Queremos ajudar o condutor a ver as faixas. Grande parte dos acidentes acontece porque os motoristas não perceberam a presença do pedestre”, justifica o diretor do órgão. “A nova engenharia, com a pintura em ziguezague, vai funcionar como um alerta para a proximidade do ponto de travessia. Assim, o condutor automaticamente vai reduzir a velocidade”, acrescenta.

Para ver melhor: Os técnicos farão uma pintura em forma de zigue-zague e colocarão mais placas de sinalização (Breno Fortes/CB/D.A Press )
Para ver melhor: Os técnicos farão uma pintura em forma de zigue-zague e colocarão mais placas de sinalização
Outra novidade do projeto é a delimitação de uma área às margens das faixas, que será pintada de vermelho sobre o pavimento. O local terá quatro metros de comprimento e a largura será variável, de acordo com a calçada existente. Com isso, o Detran quer evitar casos em que os pedestres estão caminhando próximo à faixa, mas não querem atravessar, confundindo os motoristas. Cada faixa repaginada vai custar cerca de R$ 5 mil. O custo maior é a para a colocação de tachões de led, visíveis a longa distância. Com a futura expansão da tecnologia para todas as 4 mil travessias do DF, esse valor deve baixar muito.

Para o diretor-geral do Detran, essa é mais uma medida para reduzir os riscos de acidentes fatais envolvendo quem anda a pé. “Com a mudança, a ideia é que o pedestre só pise nessa área vermelha se de fato quiser atravessar a rua”, diz Francisco Saraiva. Ainda assim, a orientação é que o pedestre dê sinal, balançando o braço antes de passar e aguardando a parada completa de todos os veículos antes de começar a travessia.

Campanha
A primeira faixa no novo modelo será pintada entre os setores Hoteleiro e Comercial Sul, ao lado do Hotel Bonaparte. No local, é comum ver condutores ignorarem as pessoas que querem cruzar a rua. Com a mudança de engenharia, o Detran também quer retomar a campanha de respeito aos pedestres e às faixas. “Fizemos um levantamento nessa primeira faixa que mostra que, em 72% dos casos, o primeiro ou no máximo o segundo motorista para quando o pedestre faz o sinal. Mas queremos que esse número chegue a 100%, para reduzirmos ao máximo os riscos de atropelamento”, justifica a diretora de Estatística do Detran-DF, Rita Speziale.

Logo depois da faixa vizinha ao Setor Hoteleiro, o Departamento de Trânsito fará mudanças também na travessia em frente ao Hemocentro de Brasília, que fica na via N3, no início da Asa Norte. A 1ª Avenida do Sudoeste também receberá uma faixa experimental, na altura da CLSW 302. Em frente à sede do Detran, na Via Epaa, haverá a construção da quarta travessia. Por último, as equipes de engenharia vão trabalhar na Rodovia DF-001, na altura do Pistão Norte. Nesse último caso, as ações serão feitas em parceria com o Departamento de Estradas de Rodagem, já que se trata de uma pista sob a jurisdição do DER.

Estatística
De janeiro a outubro deste ano, 364 pessoas perderam a vida nas ruas da capital e, dessas, 124 foram atropeladas, o que equivale a quase 35% das vítimas. Agosto de 2010 foi o mês mais violento dos últimos seis anos, com 53 acidentes fatais e 55 mortes no trânsito.

APROVAÇÃO DE QUEM ANDA A PÉ

Os pedestres aprovaram as mudanças e esperam que as intervenções tornem as travessias ainda mais seguras. O bancário Ubiratan Matos, 53 anos, trabalha no Setor Comercial Sul, próximo ao local da primeira faixa experimental. Ele conta que, muitas vezes, os motoristas ignoram as pessoas que querem atravessar a rua. “A maioria respeita, mas alguns aceleram e quase passam por cima da gente”, reclama o bancário. “Acho que qualquer mudança é bem-vinda, caso seja para aumentar a segurança”, acrescenta.

A operadora de telemarketing Bianca Brito dos Santos, 20 anos, tem a mesma opinião. “Eu só passo na faixa quando vejo que todos os carros já pararam. Uma vez, quase fui atropelada porque já estava atravessando a rua e, de repente, veio um motorista a toda velocidade que não conseguiu parar”, relembra Bianca.

O diretor de Educação do Detran, Silvaim Fonseca, diz que uma das medidas mais importantes da nova faixa é a colocação de sinais alertando para a proibição de parar e estacionar. Isso porque muitos motoristas aproveitam a travessia para fazer embarque ou desembarque de passageiros. “Isso confunde os condutores. Às vezes, acontece de o motorista achar que o carro da frente parou só para o desembarque de pessoas e não parar, causando atropelamentos”, explica Fonseca. O governo vai fiscalizar com rigor e multar todos os veículos que estiverem estacionados ou parados, mesmo que momentaneamente, na área das faixas.

Fonseca também se lembra de outra estatística importante, que pode ser reduzida com a implantação das novas faixas. “Cerca de 70% dos atropelamentos sobre as faixas foram causados quando já havia um carro parado”, acrescenta

Relatório A cada 90 dias, o Detran terá que enviar um relatório ao Departamento Nacional de Trânsito, com detalhes sobre a implantação das novas faixas. É com base nessas informações que o governo federal vai decidir se as formas de pintura sobre o asfalto são de fato eficazes para a redução dos atropelamentos fatais para, então, expandir a iniciativa para todo o Brasil.

Para o engenheiro José Eduardo Daros, presidente da Associação Brasileira de Pedestres, qualquer iniciativa para aumentar a segurança das travessias e reduzir os riscos de acidente é positiva. Mas ele lembra que o Código Brasileiro de Trânsito já tem vários instrumentos, que muitas vezes não são aplicados. “Ser pedestre é uma condição do ser humano. Mas há uma ausência muito séria de cidadania”, critica o especialista. “Outra medida importante em Brasília seria a redução da velocidade em vias arteriais. Isso reduz as chances de acidente e, em caso de atropelamento, diminui a gravidade das lesões”, acrescenta Daros. (HM)