Para oferecer às cidades uma maior qualidade de vida, com melhorias da mobilidade urbana, não basta ampliar a rede de transporte público. Sistemas eficientes de metrô, VLT (veículo leve sobre trilho), trens urbanos ou BRTs (transporte rápido por ônibus) atraem os passageiros. Mas, para que ocorra de fato a redução de carros particulares nas cidades, “é necessário penalizar o transporte individual”.
A medida foi defendida pelo professor de Política de Transporte e Planejamento Bruno Faivre D´Arcier, que também é doutor em Economia dos Transportes, engenheiro da Escola Central de Paris e diretor do Departamento de Transportes da Faculdade de Ciências Econômicas e de Gestão da Universidade Lumière Lyon II, na França. “Não adianta aumentar a oferta de transporte público se não penalizar o uso do carro”, afirmou D´Arcier, durante o Seminário Internacional Mobilidade e Transportes, promovido na Universidade de Brasília (UnB), de 27 a 29 de agosto.
Segundo ele, os melhores resultados em relação à mobilidade urbana podem ser mostrados pelas cidades que aplicaram medidas para restringir a velocidade do automóvel e para aumentar o custo dos estacionamentos nos centros urbanos. O aumento no preço do combustível também é um motivo que acaba levando, muitas vezes, ao abandono do carro particular e à volta ao transporte público, conforme o especialista francês. Em Lion, a participação do carro no trânsito é inferior a 50%.
Ao comentar sobre quais bons exemplos citaria em relação a essa penalização do transporte individual na França, D´Arcier lembrou que o caso mais simbólico é o do VLT na região de Paris, que dá voltas completas em grandes avenidas, formando uma barreira para o automóvel. É dada prioridade à circulação do VLT em relação aos veículos particulares.
Na capital francesa, conforme o especialista em transporte, a política de estacionamento é bastante eficiente no sentido de reduzir o uso do transporte individual. “O custo de estacionamento em Paris é extremamente alto. São cobrados valores considerados excessivos para muitas famílias. Essa política de preços altos nos estacionamentos é uma ótima forma de se limitar o uso do carro”.
Paris impôs medidas restritivas para o uso de automóveis
“Ao aplicar as restrições, há uma internalização dos custos sociais do automóvel. Quando saio no meu carro, estou emitindo poluentes e todos estão pagando por isso. Ao deixar o meu carro estacionado o dia inteiro no local de trabalho, estou ocupando um lugar, que é público, privadamente. Então, se forem criadas formas de cobrar do usuário do automóvel pelos custos que ele está produzindo, é somente uma questão de justiça”, defende o professor da UnB.
A implementação de alguma forma de pedágio urbano, restrição de circulação em áreas de preservação histórica e altos preços em estacionamentos são algumas medidas para dificultar o transporte individual. Mas, de acordo com o professor da Universidade de Brasília, todas essas e outras medidas não irão resolver o problema se forem implantadas sozinhas. É necessário oferecer condições de circulação.
“Não se pode criar restrições ao uso do automóvel sem oferecer mobilidade para quem não está usando o automóvel. Senão, há um comprometimento do direito de ir e vir. É preciso investir na mobilidade das cidades para que a liberdade de viver não seja comprometida”, avalia Marques. De acordo com o professor, as duas medidas devem ser implementadas de forma simultânea – tantos as restrições ao transporte individual como o investimento em alternativas para os deslocamentos. Assim, na avaliação de Marques, a migração do transporte individual para o transporte público ocorrerá de forma natural.
Cynthia Castro
Agência CNT de Notícias